CONVIVIR

As CONVIVIR, definidas na Colômbia como Cooperativas de Vigilância e Segurança Privada para a autodefesa agrária, foram uma resposta oficial para proporcionar um novo quadro jurídico para a defesa que os fazendeiros faziam de suas próprias terras diante da ameaça de grupos guerrilheiros. Foram regulamentadas por Ernesto Samper.[1]

Criação

Devido às crescentes ações guerrilheiras na década de 1990, surgiram as CONVIVIR a nível nacional entre 1994 e 1997 a partir de várias disposições legais durante a presidência de Ernesto Samper. Durante o governo do presidente César Gaviria Trujillo foi emitido o Decreto de Lei 356 de 1994, o qual estabeleceu as condições para regular os novos "serviços especiais de segurança privada" que operariam em zonas de combate onde a ordem pública fosse precária. Em 27 de abril de 1995, uma resolução da Superintendência de Vigilância e Segurança Privada deu a estes novos serviços o nome de CONVIVIR.[2][3][4]

Em uma declaração pública em dezembro de 1994, o ministro da Defesa Fernando Botero Zea informou que os novos serviços especiais de segurança privada estavam sob a supervisão da Superintendência e não poderiam se juntar a eles pessoas com antecedentes criminais.[4]

Atividades

Os membros das CONVIVIR tinham legalmente o direito de portar armas e equipamentos de comunicação de uso exclusivo das forças armadas para proteger suas comunidades e colaborar com as forças de segurança pública de contrainsurgência.[2]

As CONVIVIR se organizaram a nível nacional, sendo difícil estabelecer o seu número exato e de seus membros, uma vez que dependiam da forma como esses grupos de segurança privada seriam considerados como tal ou não. Existem estimativas que incluem até 414 grupos, e de acordo com o presidente da Federación Nacional de Asociaciones de CONVIVIR Carlos Alberto Díaz, até dezembro de 1997 havia mais de 120 mil membros das CONVIVIR na Colômbia.[2]

Controvérsias

Durante sua existência, várias CONVIVIR foram criticadas por irregularidades em sua estrutura e supervisão, bem como a existência de graves abusos, incluindo violações dos direitos humanos contra civis e suspeitos de colaboradores da guerrilha.[4]

Alega-se que a sua criação contribuiu para complicar a distinção entre civis e combatentes, junto com o fato de que vários membros de grupos paramilitares formaram ou ingressaram nas CONVIVIR e/ou ilegalmente assumiram a denominação de "CONVIVIR" sem ter autorização oficial para fazê-lo, levando a uma maior confusão e a posteriores abusos.[2] Relatórios argumentaram que alguns grupos CONVIVIR alcançaram resultados no fornecimento de segurança para as comunidades e na coordenação de inteligência para as forças militares, mas aparentemente numerosos membros cometeram abusos contra civis, sem uma fiscalização séria sobre suas operações e organização. Em 1998, a Human Rights Watch afirmou que "recebemos informação credível que indicou que os grupos CONVIVIR de Magdalena Medio e das regiões sul de Cesar foram dirigidas por paramilitares conhecidos e ameaçavam assassinar colombianos que eram considerados como simpatizantes da guerrilha, ou que rejeitaram a adesão à grupos cooperativos". [5]

Para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a "estreita relação de trabalho entre as forças militares e as CONVIVIR é o que está permitindo sob as circunstâncias analisadas dar aos membros das CONVIVIR um status de agentes estatais" tanto para suas ações legais como ilegais.[2]

Em 1996 e 1997, o então governador de Antioquia, Álvaro Uribe Vélez e o vice-governador Pedro Juan Moreno defenderam a organização e o funcionamento das CONVIVIR locais em seu departamento, com base nas regras estabelecidas pela administração central do Estado. A prefeita de Apartadó, Gloria Cuartas, criticou a organização das CONVIVIR em seu município e considerou que, além de desnecessária, era prejudicial para a governabilidade. [4][3]

Depois de muito debate político, uma decisão do Tribunal Constitucional da Colômbia em novembro de 1997 afirmou que os membros da CONVIVIR não poderiam reunir informações de inteligência e não poderiam utilizar armas de uso militar. Outras restrições incluem o aumento da supervisão legal, e no início de 1998 dezenas de antigos grupos CONVIVIR tiveram suas licenças revogadas, porque não entregaram suas armas e retiveram informações adicionais sobre o seu pessoal. Devido a essas medidas, algumas gradualmente entregaram suas armas e se extinguiram. Até o final de 1997, 237 das armas restritas foram devolvidas às autoridades. Outros membros não cumpriram e depois se uniram a grupos paramilitares existentes. [4]

De acordo com a indiciamento de 2007 contra a empresa de frutas estadunidense Chiquita Brands International, vários pagamentos às Autodefesas Unidas da Colômbia foram passados através de um grupo "intermediário" Convivir que operava na região de Urabá. [6]

Referências

  1. Revista Semana: ¿Pedro Juan en Palacio?
  2. a b c d e Comisión Interamericana de Derechos Humanos
  3. a b Colombia: ¿Volver a las Convivir?
  4. a b c d e Human Rights Watch, Guerra sin cuartel
  5. Human Rights Watch, Colombia 1997 Events, par.1
  6. DOCUMENTS IMPLICATE COLOMBIAN GOVERNMENT IN CHIQUITA TERROR SCANDAL, National Security Archive Electronic Briefing Book No. 217