Campinarana

Vista lateral de uma área com vegetação alagada, possivelmente campinarana, em Manaus, AM.

Campinarana se refere a um tipo de vegetação da região amazônica, que se desenvolve sobre solos arenosos fortemente lixiviados, de baixíssima fertilidade [1]. A pobreza dos solos relaciona-se a origem do sedimento ou ao processo de podzolização, resultante das contínuas subidas e descidas do lençol freático, o que lixivia a matéria orgânica, argilas e outros sedimentos das camadas superiores do solo. Essa vegetação diferencia-se da Floresta Amazônica propriamente dita (a Terra-Firme), pela flora distinta e pelo porte menor das árvores e caules mais finos e tortuosos.

Apresentam composição florística única, mas pobre quando comparada às florestas de Terra-Firme adjacentes. Em um levantamento na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, foi registrado 167 espécies pertencentes a 117 gêneros e 50 famílias, onde Fabaceae foi a mais representativa, seguida de Rubiaceae e Chrysobalanaceae. Apenas 30,5% das espécies foram exclusivas de Campinaranas, confirmando que, embora existam muitas plantas endêmicas, a maioria das espécies é generalista [2].

Algumas áreas de Campinaranas são submetidas a um pulso de inundação, regulado pelo nível do lençol freático e pela precipitação local [3], e devido a estarem submetidas à alagamento durante um período do ano, são classificadas com Áreas Úmidas. A magnitude e a duração do período de seca ou de alagamento, juntamente com pequenas variações de nutrientes, determinam a distribuição e seleção das espécies nessa vegetação.

Oceano
Atlântico
Floresta Amazônica
Cerrado
Mata dos cocais
Caatinga
Pantanal
Mata
Atlântica
Mata de Araucárias
Pampas
Floresta ombrófila densa
Floresta ombrófila aberta
Floresta ombrófila mista
Floresta estacional semidecidual
Floresta estacional decidual
Campinarana
Savana
Savana-estépica
Estepe
Áreas de formações pioneiras
Área de tensão ecológica
Refúgios Vegetacionais
Oceano
Atlântico
Distribuição dos tipos de vegetação original do Brasil, distribuídos entre as regiões biogeográficas (IBGE, 2004).[nota].

As Campinaranas ocorrem ao longo da região amazônica, sendo em áreas contínuas somente no alto e médio curso da bacia do Rio Negro, enquanto na maioria das demais regiões elas ocorrem de forma fragmentada, como se fossem ilhas envoltas em uma matriz de florestas de Terra-firme [4][5] [6][7]. Técnicas recentes de sensoriamento remoto indicam uma área de cobertura de 104.000 km2 apenas para a bacia do rio Negro [3] e 334.879 km para toda a Bacia Amazônica[1].

Terminologia

Inicialmente, Spruce [8] usou o termo "caatinga amazônica" (ou florestas baixas, florestas brancas, monte bajo) para um tipo de vegetação do alto rio Negro, além do termo "caatinga-gapó" para a vegetação com fisionomia semelhante as campinaranas mas submetida ao pulso de inundação do Rio Negro.

O termo mais comumente usado atualmente é Campinarana, por sua vez, foi primeiramente empregado por Adolpho Ducke [9][10]), Sampaio [11][12]1, Egler [13], Projeto Radambrasil (1973-1987) e IBGE [14](2012).

Dücke e Black [10] usaram o termo "campina" para as clareiras de gramíneas na Amazônia, com flora similar às "caatingas" amazônicas. Distinguiram também os "campos" (com flora do Cerrado) e as "campinaranas" (definidas como transição entre as florestas amazônicas e os campos e campinas).

O IBGE (2012) propôs uma reformulação, reunindo os termos "Caatinga da Amazônia", "Caatinga-Gapó" e "Campina da Amazônia" sob a categoria "Campinarana" num sentido amplo; os dois primeiros termos são usados, prioritariamente, para designar os tipos de campinarana mais adensados e/ou arborizados; o segundo, em áreas inundadas na maior parte do ano; e o terceiro, para os mais abertos ou campestres[14].

Caracterização

De acordo com o IBGE (2012) as campinaranas foram classificadas em 4 formações:

1. Campinarana Florestada que englobaria termos como Caatinga da Amazônia, Ressaca e Caatinga-Gapó (florestada).

2. Campinarana Arborizada englobando os termos Campinarana (stricto sensu) e Caatinga-Gapó (arborizada).

3. Campinarana Arbustiva englobando os termos Campina da Amazônia (arbustiva), Caatinga-Gapó (arbustiva), ou Varetal.

4. Campinarana Gramíneo-Lenhosa englobando os termos campina e campo da natureza.


Recentemente, Demarchi[2], classificou as campinaranas da região do Rio Uatumã, onde foram propostas seis diferentes fitofisionomias caracterizadas com base no gradiente do nível do lençol freático, estrutura e variação da composição de espécies:

Floresta de Campinarana Arbustiva bem drenada
Floresta de Campinarana Arbustiva bem drenada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, Amazonas.
  • Campinarana arbustiva aberta
  • Campinarana arbustiva densa
  • Campinarana arbórea aberta
  • Campinarana arbórea densa
  • Campinarana florestada aberta
  • Campinarana florestada densa

Ligações externas

  • «Campinarana Florestada.» 
  • «Regiões Fitoecológicas - Campinarana.» 
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Biogeografia do Brasil Brasil
Regiões
(IBGE, 2004)
Vegetação
(IBGE, 2012)
Vegetação
(Ferri, 1980;
Rizzini, 1997)
Ver também
Portal Brasil Brasil
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Bibliografias

  1. a b Adeney, J. Marion; Christensen, Norman L.; Vicentini, Alberto; Cohn‐Haft, Mario (janeiro de 2016). «White‐sand Ecosystems in Amazonia». Biotropica (em inglês) (1): 7–23. ISSN 0006-3606. doi:10.1111/btp.12293. Consultado em 29 de julho de 2024 
  2. a b Demarchi, Layon Oreste; Klein, Viviane Pagnussat; Aguiar, Daniel Praia Portela; Marinho, Lucas Cardoso; Ferreira, Maria Julia; Lopes, Aline; Cruz, Jefferson da; Quaresma, Adriano Costa; Schöngart, Jochen (17 de fevereiro de 2022). «The specialized white-sand flora of the Uatumã Sustainable Development Reserve, central Amazon, Brazil». Check List (em inglês) (1): 187–217. ISSN 1809-127X. doi:10.15560/18.1.187. Consultado em 29 de julho de 2024 
  3. a b Junk, Wolfgang J.; Piedade, Maria Teresa Fernandez; Schöngart, Jochen; Cohn-Haft, Mario; Adeney, J. Marion; Wittmann, Florian (agosto de 2011). «A Classification of Major Naturally-Occurring Amazonian Lowland Wetlands». Wetlands (em inglês) (4): 623–640. ISSN 0277-5212. doi:10.1007/s13157-011-0190-7. Consultado em 29 de julho de 2024 
  4. Anderson, Anthony B. (setembro de 1981). «White-Sand Vegetation of Brazilian Amazonia». Biotropica (3). 199 páginas. doi:10.2307/2388125. Consultado em 29 de julho de 2024 
  5. «Islands in Amazonia». Philosophical Transactions of the Royal Society of London. Series B: Biological Sciences (em inglês) (1341): 823–833. 29 de junho de 1996. ISSN 0962-8436. doi:10.1098/rstb.1996.0077. Consultado em 29 de julho de 2024 
  6. Fine, Paul V. A.; García-Villacorta, Roosevelt; Pitman, Nigel C. A.; Mesones, Italo; Kembel, Steven W. (outubro de 2010). «A Floristic Study of the White-Sand Forests of Peru 1». Annals of the Missouri Botanical Garden (em inglês) (3): 283–305. ISSN 0026-6493. doi:10.3417/2008068. Consultado em 29 de julho de 2024 
  7. Stropp, Juliana; Sleen, Peter Van der; Assunção, Paulo Apóstolo; Silva, Adeilson Lopes da; Steege, Hans Ter (2011). «Tree communities of white-sand and terra-firme forests of the upper Rio Negro». Acta Amazonica (em inglês): 521–544. ISSN 0044-5967. doi:10.1590/S0044-59672011000400010. Consultado em 29 de julho de 2024 
  8. Spruce, Richard; Spruce, Richard; Wallace, Alfred Russel (1908). Notes of a botanist on the Amazon & Andes; being records of travel on the Amazon and its tributaries, the Trombetas, Rio Negro, Uaupâes, Casiquiari, Pacimoni, Huallaga and Pastasa; as also to the cataracts of the Orinoco, along the eastern side of the Andes of Peru and Ecuador, and the shores of the Pacific, during the years 1849-1864. v.1 (1908). London: Macmillan and co., limited 
  9. Ducke, Adolpho (1983). A flora do Curicuriari, afluente do rio Negro, observada em viagens com a Comissão Demarcadora das Fronteiras do Setor Oeste. Rio de Janeiro: Jardim Botânico: Anais da 1a. Reunião Sul-Americana de Botênica. p. 389-398 
  10. a b Ducke, A.; Black, G. A. (1953). «Phytogeographical notes on the Brazilian Amazon.». Consultado em 29 de julho de 2024 
  11. Sampaio, A. J. (1940). Fitogeografia. Rio de Janeiro: IBGE: Revista Brasileira de Geografia. p. 59-78 
  12. Sampaio, A.J. (1944). A flora amazônica. Rio de Janeiro: IBGE: Amazônia brasileira: excerptos da Revista Brasileira de Geografia. p. 92-102 
  13. Egler, Walter Albert (junho de 1960). «Contribuições ao conhecimento dos campos da Amazônia. I - Os campos do Ariramba.». ISSN 0077-2216. Consultado em 29 de julho de 2024 
  14. a b «IBGE | Biblioteca | Detalhes | Manual técnico da vegetação brasileira : sistema fitogeográfico : inventário das formações florestais e campestres : técnicas e manejo de coleções botânicas : procedimentos para mapeamentos». biblioteca.ibge.gov.br. Consultado em 29 de julho de 2024