Caso República

O Caso República foi um episódio da luta pelo controlo da comunicação social na República Portuguesa, ocorrido a 19 de maio de 1975, correspondente à invasão e ocupação do jornal República, e subsequente expulsão de membros da sua direcção, apoiada pelo Partido Socialista (PS), por trabalhadores afectos ao Partido Comunista Português (PCP) e, segundo Mário Soares, ao União Democrática Popular UDP.[1]

A invasão e ocupação do jornal por parte da comissão de trabalhadores do jornal, representando os tipógrafos, gráficos e administrativos, foi justificada como sendo um protesto dirigido à linha editorial seguida no jornal, atacando-a por ser próxima do ideal socialista[2].

Este era então um dos poucos órgãos de informação cuja linha editorial não se encontrava alinhado com a extrema esquerda comunista representada no poderm por Vasco Gonçalves, cujo governo havia nacionalizado a maioria dos grandes orgãos de comunicação[1], na onda de nacionalizações após a Intentona de 11 de Março spinolista. A expulsão da direcçãodo República foi caso que veio a ter grande repercussão internacional[3].

Foi sucedida pela ocupação semelhante da Rádio Renascença a 27 de maio, com os ocupantes depois a denunciar uma alegada "transmissão clandestina". Foi um dos temas mais discutidos na reunião da OTAN em Bruxelas a 27 de maio de 1975, centrado na liberdade de informação. Alinhado com os ocupantes dos meios de imprensa, Vasco Gonçalves diria:[1]

Em 27 de Maio, desloquei-me à Bélgica, para a reunião anual de presidentes e chefes de Governo da NATO, e um dos temas que mais discussões provocaram com certos representantes estrangeiros foi precisamente o caso República, centrado na liberdade da informação. (...) Enquanto em Portugal se provocava todo um clima que servia de pretexto para agitar o fantasma de uma ditadura comunista, Mário Soares aproveitava as suas deslocações à Europa para convencer os governos e, em particular, a Internacional Socialista, de tal avanço. Contudo, devo salientar que nessa reunião da NATO ninguém levantou o caso da Rádio Renascença, que era, para nós, muito mais grave do que o do República.

De igual forma, na visita do presidente Costa Gomes a Paris, os jornalistas apenas queriam saber do caso República.[1]

Foi tão grave que, a 9 de julho, durante o Verão Quente de 1975, o Partido Socialista (PS) declara que resolveu abandonar o governo como sinal de protesto contra a ocupação do jornal e a falta de tomada de acções pelo Conselho da Revolução.[1][4]

Referências

  1. a b c d e Ribeiro, Sara Augusta Rufo (2013). O Caso República no contexto político-militar de 1975. Lisboa: ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. pp. 17, 18 
  2. Pedro Miguel Guinote, Rui Miguel Faias e Mário Rui Nicolau. «O Caso República» 
  3. «Verão Quente de 1975». CITI, Universidade Nova de Lisboa. Arquivado do original em 26 de outubro de 2003 
  4. Verão Quente de 1975, CITI, Universidade Nova de Lisboa

Ligações externas

  • O Caso República, Pedro Miguel Guinote, Rui Miguel Faias, Mário Rui Nicolau, Lisboa, 1997, portal EUSOU
  • O caso República: quando o PS quis condicionar um jornal, ZAP, 19 de Abril de 2024
  • O Caso República no contexto político-militar de 1975, Sara Augusta Rufo Ribeiro, Departamento de Sociologia e Políticas Públicas, ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, Setembro de 2013
  • Publicação do “Jornal do Caso República”, RTP Arquivos, 29 de Maio de 1975, © RTP, Rádio e Televisão de Portugal 2024
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